Apr 21, 2011

invadindo escola alheia

gente, gente, gente!
acabei de voltar de um passeio muito legal.
Bom, legal pra quem estudou arquitetura, pra quem viajou o Brasil todo conhecendo as faculdades dos amigos...
Hoje, a convite do professor Peter de Bretteville, fui assistir à apresentação dos trabalhos da disciplina de projeto de arquitetura do segundo semestre na Yale School of Architecture.
 (http://www.architectmagazine.com/educational-projects/old-school-new-school-yale-university.aspx)

Na disciplina os alunos devem desenvolver um projeto residencial, no caso, uma casa com 2 apartamentos, sendo um, maior, que seria habitado pelo dono do imóvel e um menor para aluguel.
O terreno, para o projeto é real, o cliente (uma construtora local) é real, o problemas a serem resolvidos são reais. Digo isso, e quem estudou comigo vai entender, porque muitas vezes durante a faculdade sentimos a falta dos problemas reais. Pensar sobre problemas que não existem não é fácil, nem gostoso. Inventar problemas nos deixa mal acostumados...
O terreno do projeto não é muito longe daqui de casa, então fiquei bem empolgada com as propostas, com a leitura dos alunos sobre o bairro, que é bem pobrinho...
Ao todo foram apresentados 6 projetos, que pelo que entendi, já passaram por uma "peneira" antes. Hoje aconteceu mais uma peneira, e no final, o melhor projeto será realmente construído, então a opinião da construtora, que estava na apresentação hoje, conta muitos pontos.
Isso é bem legal, porque universidade (e convenhamos, Yale School of Architecture é uma das mais antigas e importantes faculdades de arquitetura DO MUNDO) e mercado são obrigados a conversar. O cara que produz habitação barata pode ver a produção dos alunos dos arquitetos mais influentes do país, e esses alunos tem que entender que o custo de produção e a "vendabilidade" daquela construção são fatores importantíssimos fora dos belos muros de Yale.
(Yale não tem muros... mas vocês entenderam a metáfora, né?)
Adorei a proposta!
Mas vamos por partes.
Gostei muito do formato da apresentação, e fiquei pensando que foi uma pena não ter pasado por situações assim mais vezes durante a minha formação.
A presentação era em formato de banca.
Cada equipe tinha de 30 a 35 minutos para apresentar o projeto e responder a perguntas. Todos tinha pranchas impressas com as plantas, cortes, fachadas, perspectivas internas, diagramas de composição... Maquetes em papel e madeira, uma maquete só da estrutura (lembrando que estamos falando de woodframe) e maquetes maiores com cortes da casa que a equipe achasse mais interessante para explicar algum conceito. No final, uma maquete 1:100 era colocada numa maquete maior com o entorno de 6 quarteirões.
Nem os professores, nem os convidados, nem o cliente eram lá muito bonzinhos. Foram criticados detalhes construtivos mal elaborados, cozinhas em que a pessoa faz sombra na área de trabalho (ODEIO COZINHA EM QUE EU FAÇO SOMBRA NA ÁREA DE TRABALHO!!! ODEIO!!), mas pricipalmente as entradas e fachadas das casas foram criticadas.
No pedido do cliente, o dono da casa e seu inquilino deveriam ter entradas separadas, a chegada de um não deveria interferir na chegada do outro. Com isso, todos os grupos resolveram que o dono da casa teria a entrada na frente e o inquilino entraria pela lateral. Fosse subindo uma escada ou entrando direto no térreo, todos entravam pela lateral do terreno.
Isso deixou os professores loucos!!!
Olha só o problema que isso cria: o dono da casa não quer saber da existência do seu inquilino, mas o amigo do inquilino que vem visitar só vê uma porta e só uma campainha para apertar. Aí o dono da casa tem que atender a porta e dizer que a campaínha do amigo é na lateral da casa.
Entenderam o conflito?
Arquitetura não é muito emocionante?
Engraçado foi que eu gostei muito de uma proposta que os professores criticaram muito muito muito.
Um dos grupos, ao invés de manter o alinhamento da casa igual ao das outras casas, resolveu que seria mais legal colocar a casa no meio do terro, pra ter mais janelas com sol direto, sem interferência das casas ao redor. Na frente eles criaram um jardim, quase como uma pracinha, pensando que inquilino e dono da casa pudessem dividir aquele espaço, ou que o inquilino usasse a frente e o dono da casa usasse o fundo (espaço mais nobre). Eu realmente achei a idéia divertida, mas eles não defenderem com muito afinco. A crítica dos professores foi de que o bairro não é muito seguro e que equele espaço todo na frente não é nem público nem privado, e que acabaria sendo usado pelos vizinhos também, não só pelos moradores da casa.
Mas o que é que eu vi no bairro que me deixou otimista com a proposta da molecada: nas casa que tem uma varandinha, o pessoal coloca sofá, cadeira, poltrona, mesinha... aparentemente, quando não está frio, o pessoal fica na rua, fica na frente das casas, que nem em cidade do interior, e tem algum relacionamento com a vizinhança, então, se você tem um jardim maior na frente essa interação pode ser maior... talvez os limites estabelecidos pelo grupo pudessem ser um pouco mais fortes, mas a idéia é bem legal.
E falta um pouquinho de espaço público de convivência aqui na cidade...
Mas fiquei realmente muito feliz com o passeio de hoje. A estrutura dos ateliês de Yale eu não vou nem comentar agora, pra não morrer de dor de cotovelo e estragar meu computador com tantas lágrimas de lamento.

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