Às vezes a gente assiste alguma coisa na TV que nos toca profundamente, e não estávamos preparados pra isso. (spoiler alert)
Começamos a assitir ao seriado da Netflix "Friends From College". A sinopse mínima falava pouco do clima do seriado: Um grupo de amigos que se conheceram na faculdade, em Harvard, compartilha os sucessos – e fracassos – da vida aos 40 e poucos anos.
Bom, o seriado fala mais dos fracassos, em todos os sentidos, do que dos sucessos. Ele tenta ser bem humorado, mas o tom cômico às vezes incomoda um pouco, ainda mais quando rola aquela identificação...
E claro que foi isso que aconteceu...
Assistir aos epoisódios 4 e 5 foi particularmente difícil.
Acompanhar a Lisa (Cobie Smulders) e o Ethan (Keegan-Michael Key) passando pelo processo da FIV foi relembrar cada uma das cerca de 90 injeções de hormônios que tomei ao longo das 3 tentativas que fizemos. Foi também refazer o cálculo do rombo financeiro que essas tentativas trouxeram consigo.
Me reconheci nas mudanças de humor da personagem ao longo do ciclo antes da punção ovariana, nos ematomas doloridos na barriga e na incapacidade de encontrar um lugar novo sem furos para injeções finais.
No meu caso achei mais fácil eu mesma aplicar, muita confusão duas pessoas pra uma injeçãozinha tão pequena. E depois da dica da enfermeira sobre colocar o ar na ampola antes de colocar o liquido para dissolver o remédio, tudo ficou mais fácil. Mas assitindo ao episódio, fiquei muito irritada com aquele marido fazendo o maior teatro pra aplicar uma subcutânea...
Achei até tranquilo que tivessem que aplicar a última injeção, aquela com hora marcada, no banheiro da casa no meio da festa. Nas nossa três tentativas tive que usar o banheiro da universidade no intervalo da aula. Numa das vezes estava aplicando prova no dia.
Mas certamente o mais difícil foi acompanhar o sofrimento dela com a perda do bebê. Que é uma coisa muito estranha na FIV, porque não é um bebê, é ainda um amontoado de células, mas a gente viu no ultrassom o médico colocar esse amontoado de células lá dentro do útero. Ele colocou bem aconchegado naquele endométrio grosso, acolchoado de sangue quentinho, preparado por dias só pra receber esse amontoado de células...
E o amontoado de células tinha uma lista de nomes esperando por ele ou por ela.
E a medicação fez a mama crescer, ficar dolorida, o corpo reter mais líquido... todos os sinais da gravidez estavam lá, menos ela.
A ficava pensando em quantas vezes os amontoados de célula simplesmente não se prenderam ao endométrio, e a menstruação desceu na data prevista, e ninguém nem percebeu que ele tinha passado por lá. Mas na fertilização in-vitro você sabe que ele estava lá, e fica se perguntando porque ele não gostou do quarto que você preparou com tanto carinho. Existe mesmo uma dor muito grande da perda de um bebê, não é a mesma coisa que o resultado do teste de farmácia.
Era o filho que você não teve a chance de ver crescer, e é bem complicado de lidar...
Mas voltando ao seriado, a Cobie Smulders consegue trazer todas essas contradições na Lisa, como ela trouxe também na Robin Scherbatsky, quando a personagem descobre que não poderá gerar filhos.