Sep 17, 2018

dos acontecimentos políticos nas eleições presidenciais de 2018


As amigas certamente sabem, os amigos devem ter visto por aí, mas no sábado à tarde (15/09) o grupo no Facebook Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (MUCB) foi hackeado, invadido e teve o nome alterado para demonstrar apoio ao crápula.

Se você não entendeu bem o que isso significa e está achando que é só brincadeira de internet, vou tentar ilustrar aqui: foi como se alguém tivesse invadido a minha casa e colocado bandeiras de apoio ao coisa-ruim nas minhas janelas.

Alguém (um homem apoiador do coisa-ruim) entrou no grupo, no qual 2.400.000 mulheres estavam reunidas e se mobilizando contra a candidatura de alguém que nos oferece perigo, mudou o nome do grupo e saiu por aí dizendo que o grupo era de apoio e que era mentira nossa reunião. Usaram nossa imagem, nossos perfis, postaram por aí dizendo que na verdade era uma organização de apoio.

Deu pra entender o tamanho da violência que sofremos neste final de semana?

Saí de casa no sábado à tarde dentro de um grupo contra a peste e voltei pra casa com notificações de um grupo a favor.

Foi uma violação gigantesca, foi uma tentativa torpe de nos calar e doeu profundamente.

(mas não nos calamos, não nos calaremos e estamos mais articuladas ainda)

Eu estava no grupo desde que ele tinha 500.000 integrantes, quando fui convidada por uma amiga, e o vi crescer até os 2.400.000 antes do sequestro.

Ontem eu não conseguia fazer outra coisa que não fosse acompanhar a atualização dos acontecimentos, a recuperada do nosso grupo, a nova invasão de perfis de reais ou não tentando tumultuar e invalidar nossa articulação. E a energia mental foi sendo minada.

Vou explicar uma regrinha de etiqueta: se você é convidado a participar de um grupo para o qual você não concorda com o posicionamento, você educadamente declina o convite. Por exemplo, se você é apoiadora do coisa-ruim, e é convidada por uma amiga a entrar no grupo CONTRA o coisa-ruim, você avisa a amiga "olha, fulana, agradeço por ter lembrado de mim, mas na verdade, discordo do teu posicionamento e prefiro não entrar no grupo", aí você vai na configuração e clica em "sair do grupo". Melhor do que entrar e tentar atrapalhar a conversa que tua amiga tá tendo com outras pessoas que pensam como ela. E você, pra não se sentir sozinha, se associa aos teu. Olha que fácil.

Outro exemplo: você é homem, se reconhece como homem, se apresenta como homem e as pessoas de reconhecem como homem, e você sem querer recebe um convite de uma amiga para integrar um grupo "Mulheres Unidas Contra Bolsonaro". Pô, que legal, as mulheres estão se reunindo contra o coisa-ruim, quero ver isso de perto. Veja de perto, mas de fora, apoie o movimento, organize-se com outros homens, mas decline o convite para esse grupo, este é para MULHERES, todas elas, contanto que sejam MULHERES.

E claro, se você for homem e não estiver de acordo com a temática do grupo, simplesmente saia. Teu lugar não é aqui. É feio, muito feio o que aconteceu.

Não, não é brincadeira de criança. É violência, violação do nosso direito de associação. É grave. É censura. É crime.

Aí ontem à noite, pra tentar relaxar, mudar de assunto e me preparar para a semana, aproveitei o sinal aberto da Paramount na operadora de TV à cabo e assisti aos três primeiros episódios de "The Handmaid's Tale - O Conto da Aia".

Talvez não tenha sido a ideia mais brilhante que tive nos últimos tempos...

Se você ainda não assistiu ao seriado, ou leu o romance de 1985 da Margaret Atwood, sugiro que pare tudo e faça agora.

A resenha do livro de Atwood, infelizmente, se parece demais com a realidade, ou com o medo que sinto neste momento.

"O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes."

Depois disso precisei entrar um pouquinho no Instagram, na aba de fotos de filhotes de cachorros para conseguir pegar no sono.