Apr 5, 2007

5 de Abril é um dia negro na minha família.
Há pelo menos 9 anos tememos a data.
Segundo nossos cálculos avançados, a probabilidade de coisas horríveis acontecerem aumenta em pelo menos 300% no dia 5 de abril.
Foi nesse dia que minha vózinha faleceu. Depois de 3 meses de UTI tratando uns derrames depois de uma cirurgia ortopédica devido a uma fratura na cabeça do fêmur causada por uma queda no apê, que evoluíram pra pneumonia, a vó resolveu descansar de vez.

Que eu me lembre ela morreu no final da tarde, era um sábado. Eu ia viajar com o namorado e por qualquer motivo não fomos, só por isso minha mãe nos achou. Minha irmã estava incomunicável numa fazenda com os amigos e ficou se lamentando por muito tempo.
Meu pai passou a madrugada no velório fazendo flores de papel crepom pra enfeitar o caixão. A Dona Meca ia gostar das flores de crepom, ela gostava de fazer coisas bonitas...
As flores ainda estão lá sobre o caixão (sei disso por causa da mudança de túmulo, as flores sobre o caixão salvaram meu pai de ter que ver o corpo da vó já decomposto).

Mas os dias 5 de abril seguintes foram para sempre tensos.

Um deles foi campeão, e espero que mais nenhum dia na vida acumule a quantidade de desespero daquele.
Naquela semana meu vô teve o diagnóstico de metástase do câncer que tinha tratado 2 anos antes. Naquele sábado, 5 de abril mais uma vez, ele acordou e chamou minha mãe.

Isso foi logo cedo, antes do café e dela sair pra dar aula. Queria ajuda pra preparar o testamento, organizar suas coisas. Estava se preparando pra morrer.

Vai ficar pensando "olha só que cara preocupado, importante fazer isso..."
Ah tá, super fácil pensar assim depois, quero ver o sangue frio na hora.
Mamãe saiu atordoada pra dar aula e me deixou incumbida de resgatar minha tia na rodoviária. Minha tia vinha com a notícia de que estava namorando e tava toda apaixonada (essa notícia era boa, agora ela tá casada com ele).

Mila, Li e eu fomos resgatá-la. Isso já era final da manhã, perto da hora do almoço.
Chegamos e a Mila foi brincar com as cachorras.

Gritou e voltou chorando: "Lau, a Life tá dura e gelada"
Só consegui olhar pra casinha dela.
Começamos a chorar compulsivamente, abraçadas, fungando ramelentas. Nem precisamos falar nada e a Li entendeu tudo, se juntou a nós.
Foi horrível! Ela morreu sem aviso prévio. Nunca deu nenhuma indicação de que ia morrer, não tava doente nem nada, simplesmente deitou e morreu em algum momento entre o café da manhã e o resgate da tia.
Uso uma foto da Life no mural ao lado da cama, uma dela e uma minha, parecidíssimas, pra me lembrar de pentear os cabelos e lavar o rosto antes de aparecer em público...

Pra completar o dia delicioso ainda tomei um fora. Tava tão atordoada que fui estúpida e nem deveria ter sido... tive que ligar correndo pra pedir desculpas.

Depois disso o dia 5 de abril nunca mais foi o mesmo, ele é assombrado.

É ainda um dia tenso, que temos que ficar atentas. Se alguma coias pode dar errado é no dia 5. Depois disso passa...
Beijos prá vó Meca, beijos pro vô D.A.
pra Life um carinho atrás da orelha...

saudades de vocês...

2 comments:

Anonymous said...

Nosssa, Laura, quanta coisa acontecendo no mesmo dia...

Aqui em casa é parecido com o dia 21 de abril: vó morrendo, primos nascendo, surpresas chegando. Na balança, fica tudo igual (não chega a ser um dia ruim), mas é 300% de chance de acontecer ALGO no dia 21 de abril.

Espero que esse dia 5 tenha sido um dia bom. E que quando você chegar aos 50 anos, a conta dos dias 5 de abril penda para a balança dos dias bons ;) Há de ser assim, você vai ver.

Ah, boa Páscoa. (O dia 5 de abril é sempre perto da Páscoa, e Páscoa é bom!!!)

Mila Reily said...

doído duma forma boa isso tudo. quer dizer, não essas coisas, mas lembrar agora... pq não dói que nem aquela hora.. fica só a saudade da Vó, do Vô e da Life... a sensação da pata gelada e dura dela ainda vem na minha mão vez ou outra.. mas vem junto o abraço entre irmãs, que foi tão bom, ramelento e quebrado pela insensibilidade da Tia Su que achava que a gente tinha que parar de chorar pra ir almoçar... ALMOÇAR??? COMO??? parece que comida não dá muito certo umas horas né?? mas pior que esse almoço, só a churrascaria depois do crematório... senso de hunor mórbido dessa família? não não, só falta de opção mesmo