Cinema, parte X
A ida ao cinema aqui em casa é uma negociação, não só pelo filme, pela sala de cinema, qual horário, que caminho fazer, que carro usar, mas uma negociação de bom comportamento por um par de dias...
Par mesmo, dois! É o máximo que conseguimos.
É um agrado com com segundas intensões.
Talvez não seja má intensão, mas não é nada declarada.
O agrado da ida ao cinema diminui o número de reclamações pela falta de visitas no café da manhã, pelas ausências no almoço, pelos chás da tarde perdidos.
São 10 minutos de carro, meia hora de café e pão de queijo, mais a fila do ingresso, o tempo dentro da sala de cinema, talvez mais um café ou um sorvete (isso depende do horário da sessão), e os 10 minutos da volta. Ou seja, muitas horas de companhia, certo?
Isso compra o bom comportamento, um pouco de bom humor, uns carinhos durante a semana e até a aceitação de um pedido descarado para se ausentar no final de semana para que pudesse acontecer uma festa em casa.
Viu só como o cinema é importante na vida das pessoas?
O fime foi Babel.
Pronto, já tenho um filme querido concorrente ao Oscar.
Babel está concorrendo para melhor filme, melhor direção, melhor atriz coadjuvante, melhor atriz coadjuvante mais uma vez (filmes sem atores principais... que nem Friends, quando concorria nos prêmios da TV americana), melhor roteiro original, melhor montagem e melhor trilha sonora original, tá bom né?
Direção de Alejandro González Iñárritu, aquele mesmo de 21 Gramas, filme genial também, que o cara emagrece 21 gramas quando morre, o peso da alma dele... (isso, era só isso o filme...).
Babel também tem sua história contada de forma não linear. Pronto, lá vou eu com meus jeitos de lembrar das coisas... Babel é contada como se diretor fosse contando pra gente uma história do mesmo jeito que ele a descobriu, parte por parte, como se tivesse ouvido de terceiros e estivesse passando pra frente na mesma ordem, só no final que dá pra colocar todos os acontecimentos numa linha de tempo e espaço como nas aulas de história na escola e entender todos os envolvimentos.
Bem legal a montagem, bem legal!
O roteiro também me parece novo, pelo menos assim todo junto. Mexicanos ilegais na fronteira eu já vi; casais viajando pra superar crise também; meninos brincando e causando acidentes sérios também não é novidade (o incidente internacional de ameaça terrorista é uma bela duma cotucada... isso é novo. A intervenção das relações internacionais atrasando um resgate de uma ambulância... o cara só queria uma ambulância, "deixa pra pegar os culpados depois, primeiro salva minha esposa!") ; adolescentes fazendo bobagem, tem todo o tempo... tudo isso junto e ligado, cheio de problemas de comunicação pelo mundo todo já muda um pouco... O núcleo San Diego-Mexico se liga ao núcleo Marrocos, que se liga a outro núcleo Marrocos; Marrocos se liga a Tóquio, num tráfico de armas que não é traáfico de armas.
A babá ilegal com um casal de crianças loirinhas, o casal em crise matrimonial tirando férias pra tentar retomar a relação perdida, a família de criadores de cabras com dois meninos adolescentes, turistas preconceituosos e incapazes de solidariedade com uma companheira ferida, uma adolescente surda (adoro as cenas dela se habituando aos espaços diferentes, a balada cheia de luz e sem som, como pegar o rítmo nequele espaço...) - órfã de mãe - com sua turma experimentando tudo o que é oferecido a eles, uma investigação policial, uma festa de casamento, uma travessia de fronteira, resgates de helicóptero... Tem bastante coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Adriana Barraza é a babá mexicana que atravessa a fronteira México-EUA com as crianças loirinhas que cuida para ir à festa de casamento do filho... idéia de jirico! Não que tivesse outra alternativa, mas... putz, que agonia, que angústia saber desde de o princípio que aquela idéia não pode dar certo... Mas ela está maravilhosa nessa atuação. A outra concorrente é a japonesa Rinko Kikuchi, a menina surda cheia de crises adolescentes agravadas pela surdez e pelo suicídio da mãe. A atuação dela é impressioante, fui procurar a bibiografia dela pra ter certeza de que não era mesmo surda... (é a foto dela no site da UOL nos filmes da semana).
Confesso que não prestei atenção à trilha sonora desta vez. Só nas cenas em Tóquio, que luz, som e movimento ficam mais frenéticos, mas não sei dizer se é pra Oscar...
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