Nov 12, 2006

Paisagismo de túmulo...
Pode parecer meio mórbido pra algumas pessoas, mas eu não tenho problemas com cemitério não, nem com morte na maioria das vezes. Claro que aquelas que vem repentinas e arrancam do nosso lado pessoas que achamos que não estavam prontas pra ir me atrapalham um pouco, mas no geral fico tristinha sem grandes traumas.
Na quinta o vô da Cuca faleceu; seu Luis vai fazer falta, o velhinho era bem bacana, teve projetos "do bem" a vida toda, era ultra correto nas suas atitudes (como a Cuca). Fomos pro velório dele e na sexta de manhã foi o enterro no Araçá. Não tinha dimensão do tamanho daquele cemitério, sempre vi de fora, os muros altos, mas nunca tinha dado a volta completa nele, nem entrado. É enorme, e lá de baixo parece umá favela num morro. Fiquei impressionada com os jazigos imponentes das famílias ricas da cidade, verdadeiros palacetes.
Tinha um túmulo sendo construído com a placa do empreiteiro... demais né? especialista em túmulos...
Hoje fui visitar vovô e vovó no Ghetsêmani com paps, Mila e Lidia, tia Neide não quis ir. Meu pai diz que ela tem lembrança de cemitério em Pirajuí (cidade deles no interior de São Paulo), que as tias faziam competição de quem aparentava mais sofrimento pelo morto visitado (mesmo que ele tivesse morrido meio século antes e nenhuma o conhecesse direito), e por isso acha que vai ser ruim sempre.
Tentei explicar que nossas visitas ao túmulo da vó são sempre felizes, mas surtiu efeito.
Compramos azaléias pra vó Meca. O túmulo dela tava sem plantinhas desde a mudança (minha vó foi enterrada num outro túmulo enquanto o dela não ficava pronto, quando ficou pronto o caixão dela foi pra nossa propriedade). A vó adorava o jardim dela, ele era muito florido e estávamos devendo as flores pra enfeitar a plaquinha com o nome dela lá no cemitério. Limpamos a placa que ficou brilhante agora, plantamos 4 mini-azaléias cor de rosa de 2 tons diferentes, fizemos nossas bagunças lembrando dela, contando causos e fomos procurar o vô.
Casal moderno né? dormindo em quartos separados... heheh
O corpo do meu vô tá sequestrado no túmulo de outra família e a gente não encontra a dona pra pedir autorização pra mudança. Por enquanto ele fica lá...
O dele é sempre o mais fácil de achar, mas desta vez meu pai se confundiu. Acabamos encontrando um outro casal Sebastião e América, na mesma quadra do vô.
A Mila brincando falou "é aquele do lado do toldo" porque da última vez que fomos tinha acabado de acontecer um enterro naquela quadra, desta vez também! hahah
Vô Bastião é vizinho de fundo da Maria Rita do Roberto Carlos, descobri isso hoje. Olha só...
Plantamos mais azaléias pra ele e já arrumamos a terra pra plantar alguma outra coisa em Dezembro, quando ele completaria 100 anos. Limpamos a plaquinha, polimos e agora tá bonitinho lá.
Enquanto o pai ia levar flores pra uma amiga dele que está lá também, a Mila e eu continuamos a nossa busca pelo Gui.
No ano passado fomos procurando túmulo por túmulo debaixo de um sol danado, mas nada dele... É que meu pai lembrava de ter ido pra um lado, eu lembrava de ter descido pelo outro, mas lembrava mais da chuva e do Ti chorando do que do caminho, e a Mila lembrava da Teca e não lembrava do caminho. Decidimos então plantar o bulbo de flores e fazer nosso homenagem pro nosso amiguinho querido num jazigo sem placa. Este ano, mais uma vez sem endereço, porque o sistema de busca do Ghetsêmani não tem muitas variáveis, resolvemos levar as flores pro jazigo que escolhemos no ano passado.
E quem disse que nossa memória era boa assim? Desta vez até envolvemos um dos jardineiros que achou o maior barato a nossa busca. Ele se divertiu com as duas desvairadas procurando uma coisas que elas não tinham a menor idéia de onde estava apenas por lembrarem da posição da torneira mais próxima e que era descida.
Agora tô cismada que procuramos pelo número errado... não lembrávamos a zona e achávamos que a quadra era 10, de certeza só o jazigo 100. Agora tô pensando que era na Zona 5, quadra 5, jazigo 100; eu marquei num papel, vou procurar depois... acabamos deixando as rosas amarelas pra ele na Z1,Q10,J3 acreditando que na terceira vez teremos mais sorte.
A Mila acha que o Gui tá de sacanagem, apaga o nome quando fazemos a busca e muda a ordem dos números dos jazigos só pra gente ficar procurando enquanto ele ri da gente. Ela vai atrás de todo quero-quero que pousa num túmulo e pia achando que é um sinal... é uma fadinha essa minha irmã...

Essas brincadeiras todas são só pra matar as saudades. Acho que eles ficam mais felizes de serem lembrados e homenageados com risos (gargalhadas às vezes, porque não sabemos nos comportar direito) do que com tristeza e lágrimas.
E hoje devem estar em festa lá no Céu com a sanfona de Mário Zan que acabou de chegar lá...

Saudades...

... "La vai a chalana Bem longe se vai Navegando no remanso Do rio do Paraguai..."


ps.: planos de viagem incluem as festas de Todos os Santos no México, aquela que as pessoas passam a madrugada festando nos cemitérios homenageando seus mortos... um dia eu vou.

1 comment:

Anonymous said...

Sim, provavelmente por isso e